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SDB participa de debate sobre telemedicina na 14ª edição do Fórum Saúde Digital

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O então Presidente da entidade, Caio Soares falou sobre os impulsionadores da telemedicina, formação profissional e inteligência artificial generativa, juntamente com outros especialistas do setor

 

A telemedicina será, cada vez mais, parte cotidiana do cuidado ao paciente, mas a adoção da tecnologia requer habilidades e ferramentas adicionais. O assunto foi abordado pelo presidente da Saúde Digital Brasil (SDB), Caio Soares, durante a 14ª edição do Fórum Saúde Digital, promovido no dia 13 de junho pela TI Inside, em São Paulo/SP.

 

O painel, intitulado “Telemedicina, um setor em construção”, contou também com a participação de Luís Tibana, superintendente Médico da FIDI – Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem, e Thiago Liguori, diretor da startup Pipo Saúde. A moderação foi de Claudiney Santos, diretor da TI Inside.

 

Para Soares, a evolução da telemedicina nos últimos anos foi brutal. Não só no Brasil, mas no mundo todo, ela fará parte do novo sistema de saúde. Agora é preciso discutir no que isso implica. “Fazendo uma retrospectiva, passamos por uma fase de adoção maciça e aceitação da nova modalidade, tanto por médicos quanto por pacientes. Houve uma expansão em treinamentos e ferramentas envolvendo a teleconsulta, o monitoramento remoto e o uso de devices”, explicou.

 

Além disso, com o fim da pandemia de Covid-19, começou uma nova: a de doenças mentais, o que acabou alavancando os atendimentos em  telepsicologia e telepsiquiatria. Outros impulsos para a telemedicina foram o aprimoramento tecnológico e o surgimento do 5G, permitindo a integração dos dados de forma mais rápida e a dispensação por meio de receituários eletrônicos. “A prescrição eletrônica é um processo infinitamente mais seguro, reduzindo os erros”, destacou Soares.

 

Outros pontos importantes, quando se fala em telemedicina, são a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o código de ética médica e a bioética digital. A segurança do paciente também avançou muito com o advento da telemedicina e trouxe a possibilidade de reduzir os desperdícios em saúde. “Ao ter o dado digitalizado e seguro no prontuário, conseguimos obter a informação em tempo real dos pacientes”, acrescentou.

 

Adotar a telemedicina é fundamental, quando se fala de garantir a sustentabilidade do sistema, lembrou Tibana, da FIDI. Ele mostrou que a inflação em saúde está em torno de 20% ao ano há uma década, que representa quatro ou cinco vezes o valor do IPCA por ano. Ou seja, os custos dos serviços médicos aumentam a uma taxa mais elevada do que os reajustes nos preços cobrados. Portanto, é natural que a eficiência dos planos de saúde venha caindo, enquanto a sinistralidade aumenta. 

 

“Vivemos tempos difíceis. A tendência é que não haja aumento de repasse, então, se não nos tornarmos mais eficientes, o setor vai colapsar”, disse Tibana. Essa situação pode mudar com a interoperabilidade, a integração entre os sistemas, o uso da inteligência artificial e de algoritmos de suporte à decisão clínica. “A telemedicina já vinha sido discutida antes da pandemia e agora é realidade. Há muito desperdício no setor e como não haverá mais investimento, precisamos ser mais eficientes e fazer mais com menos”, adicionou.

 

Pensando nisso, a telerradiologia pode acelerar muito o tempo de identificação de achados clínicos e reduzir tanto o impacto no sistema quanto no paciente. Isso pode ser feito customizando o sistema PACS com algoritmo de inteligência artificial para priorizar a jornada de determinado paciente dependendo da gravidade. Por exemplo, o sistema aprendeu a identificar uma hemorragia intracraniana e, imediatamente, colocar o exame no topo da lista. 

 

“Imagine que seja um hospital pequeno que não tenha um especialista. Com a telerradiologia não há esse problema, porque o médico pode analisar o exame de forma remota, de qualquer local, em poucos minutos. O maior gargalo sempre foi o tempo que o médico prescritor leva para tomar ciência do exame e realizar a ação necessária”, contou Tibana.

 

Segundo Soares, da SDB, quando se faz o atendimento em menos tempo, tem-se um desfecho mais favorável, um diagnóstico e um tratamento mais precoces e um acompanhamento mais eficiente. “Ganhar tempo na medicina significa melhorar a saúde populacional daquele grupo de pessoas. O resultado disso é impactante do ponto de vista financeiro”, disse.

 

Liguori, da Pipo Saúde, lembrou um importante dado divulgado pela SDB, que mais de 7,5 milhões de consultas foram realizadas por telemedicina no Brasil entre 2020 e 2021, provando que as pessoas estão dispostas a realizar parte de sua jornada de cuidados de forma remota. Ele salientou, ainda, que o atendimento por texto também está contemplado na lei.

 

Ações da SDB

Questionado pelo moderador do painel sobre as ações da SDB, Soares  explicou que há algumas frentes em discussão atualmente: os limites da prescrição eletrônica, que não inclui medicamentos controlados; o ato médico em instituições que não tenham representante técnico em saúde; e a inteligência artificial generativa. “Quem nunca pediu orientação de saúde para o ChatGPT? Quem vai se responsabilizar se a pessoa tomar um remédio e passar mal?”, provocou.

 

No caso, a responsabilidade precisa ser deslocada, não pode ser da ferramenta. Aqui devem ser considerados dois pontos. Sempre no desfecho clínico, a validação final precisa ser do profissional humano. E, em segundo, neste caso, a responsabilidade ao usar o site não é do profissional, mas do indivíduo. “Precisamos preparar a sociedade para ter esse mindset. A responsabilidade por minha saúde é totalmente minha”, disse Soares.

 

Sobre operações à distância por meio de robôs, via internet 5G, ele não vê uma aplicação prática para a população ainda, mas reconhece que existem muitas possibilidades devido às novas tecnologias e que, talvez em cinco anos, viveremos uma realidade diferente. 

 

Formação profissional

Os participantes do painel defenderam que a telemedicina deve fazer parte da grade curricular de todos os cursos da área de saúde, afinal, é importante sensibilizar o aluno em termos de inovação, pois a telessaúde já faz parte da realidade e é preciso seguir as regras e ter a documentação necessária. 

 

Soares, da SDB, lembrou que a atual geração de profissionais de saúde viveu a transição entre o analógico e o digital, mas que a próxima será completamente digital, e isso muda tudo. “Por isso, o esforço para a educação em telemedicina é hercúleo para a geração atual e muito mais fácil para a próxima. As faculdades de Medicina e de outros cursos na área de saúde estão começando a se adaptar”, reconhece.

 

O ponto desafiador aqui, finalizou o presidente da SDB, não é a transformação digital, mas a bioética digital. “Ela é tão ou mais importante que a capacitação profissional no mundo digital”, expôs. A bioética digital busca promover uma reflexão ética sobre a aplicação da tecnologia digital na saúde, garantindo a proteção dos direitos e valores dos pacientes, a equidade no acesso à tecnologia e a responsabilidade profissional dos envolvidos.

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