Por Eduardo Cordioli*
A saúde digital tem se consolidado, nos últimos anos, como uma solução eficiente e acessível para enfrentar os desafios que há muito tempo afligem o sistema de saúde, trazendo transformações significativas em 2023.
Uma das principais barreiras do modelo presencial de prestação de serviços é a enorme discrepância nas condições globais de saúde, decorrente das desigualdades regionais no acesso aos serviços. Essas desigualdades também estão presentes no âmbito nacional, quando analisamos as disparidades entre as diferentes regiões. Contudo, a saúde digital supera esse obstáculo, pois seu principal pilar é a equidade, desde o acesso até os resultados obtidos.
Nesse contexto, diversas tendências importantes e de impacto na saúde digital ganham destaque. Uma delas é o uso de dados e big data. É fundamental coletar dados dos pacientes e transformá-los em informações valiosas e aplicáveis, gerando insights úteis para a operação. Isso é crucial para reduzir a fricção na jornada de saúde, ou seja, os problemas enfrentados pelos pacientes durante sua trajetória. Com isso, é possível proporcionar uma experiência mais positiva e agradável ao paciente, além de garantir a redução de desperdícios, maior equidade no acesso à saúde e melhores resultados clínicos.
Outro aspecto relevante é o avanço do 5G e do poder computacional, que permite o trânsito de dados dos pacientes em diferentes cenários, sem a necessidade de retrabalho, tornando o mercado de saúde mais resiliente. Haverá cada vez mais computadores capazes de realizar cálculos avançados, com menos custo e em menor tempo, possibilitando modelos de cuidados alternativos, como a medicina preventiva e participativa, onde o autocuidado é facilitado pela inteligência artificial (IA).
Falando em IA, sua presença será cada vez mais constante no cotidiano dos médicos para auxiliar na tomada de decisões. Em breve, testemunharemos uma explosão no uso e no desenvolvimento de ferramentas de suporte à IA. Grandes instituições investirão recursos em departamentos especializados para o desenvolvimento dessas soluções, totalmente aderentes e integradas ao seu contexto. Afinal, o processo de atenção à saúde em cada local é bastante específico e deve ser compreendido para que a tecnologia seja efetivamente aplicada na rotina.
Vislumbram-se oportunidades de trabalho e negócios para tornar o cuidado e a saúde mais inteligentes, automatizando funções repetitivas e permitindo maior tempo para o desenvolvimento de habilidades interpessoais. Sem dúvida, haverá um crescente uso de dispositivos eletrônicos na saúde, não apenas em cirurgias ou atendimentos à distância, mas também aprimorando a capacidade humana no atendimento presencial, como estetoscópios inteligentes, aparelhos de imagem que auxiliam no diagnóstico mais preciso e a teleultrassonografia.
Além de toda essa inovação, a sustentabilidade surge como uma tendência importante. Por consumir menos carbono, a saúde digital é mais sustentável. Basta pensar que, se uma pessoa pode realizar parte de sua jornada de saúde em casa, sem se deslocar, ela diminui a emissão de gases poluentes para o meio ambiente, causando menos impacto ao sistema. Nesse sentido, é possível ainda transformar as linhas de serviço de grandes operadoras e empresas de saúde em créditos de carbono, a fim de garantir um retorno desse investimento.
Ao refletir sobre os próximos passos e o que esperamos ver ao longo de 2023, é crucial destacar a importância do desenvolvimento de ferramentas que apoiam a medicina à distância. A hiperconexão possibilita uma medicina mais acessível, ágil e promotora de melhores experiências, capaz de reduzir o ônus do ecossistema e até mesmo do meio ambiente. Afinal, quanto mais cuidado o paciente receber, menor será a incidência de doenças. No final, isso se transforma em um ciclo virtuoso.
Em resumo, a saúde digital representa uma revolução na maneira como abordamos e prestamos serviços de saúde, oferecendo soluções inovadoras e sustentáveis para enfrentar desafios históricos. Com o uso crescente da IA, o avanço do 5G e do poder computacional, e a ênfase na sustentabilidade, a saúde digital promete transformar o panorama da assistência médica, proporcionando uma experiência melhor para os pacientes e contribuindo para a redução das desigualdades no acesso à saúde. O ano de 2023 será marcado por uma série de inovações e tendências que reforçam a importância da saúde digital e seu potencial para moldar um futuro mais equitativo e saudável para todos.
* Eduardo Cordioli é conselheiro da Saúde Digital Brasil, médico e head de Inovação da Docway