O papel da telemedicina como ferramenta de ampliação da saúde, a importância de discussões sobre o tema para construção da ética, a criação de políticas públicas, parcerias públicas privadas e ações concretas para fomentar a saúde digital no Brasil foram temas trazidos pelos especialistas
Visando contextualizar a importância das boas práticas em telessaúde sob a ótica de diferentes especialistas, a Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital (Saúde Digital Brasil) promoveu uma mesa redonda para debater o tema. A discussão ocorreu durante o evento de lançamento da primeira edição do Manual de Boas Práticas de Telemedicina e Telessaúde, que aconteceu na última quinta-feira, na Fiesp/Ciesp, em São Paulo. A mesa foi mediada por Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil, e contou com a participação da Prof.ª Ana Maria Malik, do Prof. Daniel Neves e da Prof.ª Beatriz de Faria Leão.
Caio Soares falou, a partir de diferentes pontos de vista, do impacto da telemedicina ao setor da saúde e da importância das boas práticas para o exercício seguro e de qualidade da telemedicina.
Ana Maria Malik, médica formada pela Faculdade de Medicina da USP, mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, doutora em Medicina preventiva pela Universidade de São Paulo, professora titular da Escola de Administração de Empresas da FGV e coordenadora do FGV Saúde, falou sobre o papel da telemedicina como ferramenta de ampliação da saúde e o impacto das boas práticas na assistência ao paciente.
Ela ressaltou que o cenário é de grandes transformações e evoluções e que, estudar questões como a telemedicina e suas práticas é crucial ao setor e à sociedade no geral. É preciso que boas práticas também estejam ao alcance de quem utiliza os serviços de saúde à distância para proteger não apenas o profissional de saúde, mas, também, o cidadão.
Outro ponto salientado foi a importância da padronização das boas práticas para o combate das discrepâncias regionais e a falta de universalização de acesso que ainda existe no país. “É preciso ter claro que a telemedicina, não é para todo mundo, o tempo todo (…) Tenho muito medo que a gente saia usando loucamente errado. A existência de boas práticas e de diretrizes protegem os médicos e o cidadão brasileiro”, finaliza.
O segundo técnico da mesa a abordar o tema boas práticas foi Daniel Neves Forte, médico intensivista e paliativista, livre-docente em bioética pela Faculdade de Medicina da USP, supervisor da Unidade de Cuidados Intensivos da Disciplina de Emergências Clínicas do HC-FMUSP, que cursou Educação e Prática em Cuidados Paliativos na Harvard Medical School e foi presidente do Comitê de Bioética do Hospital Sírio-Libanês e da Academia Nacional de Cuidados Paliativos gestão 2017-2018.
O médico começou sua fala com um testemunho pessoal e emocionante sobre sua experiência na coordenação de uma UTI no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, durante os picos de casos de Covid-19 na cidade de São Paulo. O médico pontuou que a telemedicina mudou a vida dos pacientes internados, de seus familiares, que passaram a receber informações de seus familiares internados por videochamadas, e de toda equipe assistencial. A experiência por ele vivenciada, além de ter salvado vidas, fez com que o próprio profissional mudasse sua opinião com relação à telemedicina “mudei completamente a minha visão sobre telemedicina e telessaúde. Eu era uma dessas pessoas que falava que relação presencial é insubstituível. Eu hoje defendo o contrário, que diante da desigualdade que a gente é campeão, a informação deveria ser sempre por vídeo”.
Em seguida, o especialista ressaltou que a ética é construída no debate do que é certo e errado e que é nestes debates que pessoas e grupos sociais chegam a consensos que podem alterar a moral até então vigente. Neste processo, a lei é posterior à sedimentação da moral. A saúde digital se encontra nesse momento de debates, por isso o manual assume relevância ainda maior ao setor da saúde.
“A moral no mundo virtual aplicada à saúde está só começando. O que foi feito com essa obra é uma construção ética e é essa construção ética que modifica a própria moral e a lei vem depois”, ressaltou.
A última explanação do debate foi trazida pela Dra. Beatriz Faria Leão, médica formada pela Federal do Rio Grande do Sul, doutora em medicina pela Unifesp com pós-doutorado em Informática em Saúde pela Erasmus University Rotrerdam, na Holanda. A profissional atua em informática em saúde desde 1980 e é fundadora da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde – SBIS.
Dra. Beatriz salientou o papel de entidades como a Saúde Digital Brasil na união de esforços com setor público e privado para a ampliação da interoperabilidade de dados em saúde. A fala da profissional também abordou questões atinentes à relevância da certificação dos sistemas e manifestou preocupação com a falta de políticas públicas e de capacitação de recursos humanos em telessaúde.
“Nós não estamos formando pesquisadores. Precisamos abrir bolsas para formar pessoas que estão trabalhando em empresas, mas que possam desenvolver as boas práticas. Precisamos de políticas públicas na área digital e que órgãos financiadores reconheçam a saúde digital como uma área de conhecimento”. Sobre a obra lançada pela Saúde Digital, a Dra. Beatriz complementou “que essa seja uma semente para que a gente possa evoluir e manter esse manual vivo e partir para a discussão do que precisa acontecer no país para que isso [as boas práticas] realmente aconteça”.
Após a explanação, os presentes tiveram a oportunidade de direcionar perguntas aos membros da mesa técnica.
Dividido em quatro capítulos e elaborado pelas principais lideranças e autoridades no tema, o Manual de Boas Práticas de Telemedicina e Telessaúde da Saúde Digital Brasil se mostra como uma importante ferramenta para o avanço na prestação de serviços de telemedicina e telessaúde, mantendo o elevado nível de qualidade e segurança na prestação dos serviços.
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